quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Escravas da Coragem - Katheen Grissom [resenha]

Olá a todos! Hoje a postagem é sobre um livro que li já faz muito tempo mas que vale a pena falar um pouco até porque existe uma sequência que quero muito muito ler!

Belle já tinha problemas suficientes preparando a comida da casa-grande e cuidando para se manter longe dos olhos de D. Martha e de seu filho, Marshall. Eles não sabem que, na verdade, ela é filha ilegítima do capitão James Pyke, por isso imaginam o pior em relação à preferência do capitão pela escrava mestiça. Ser responsável por uma menina meio doente que acaba de chegar à fazenda é um tormento do qual Belle não precisava. A garota parece incapaz de reter comida no estômago, mal fala, não se lembra de nada e, às vezes, é até meio assustadora, com sua cara de avoada. Além de tudo é branca e tem cabelos cor de fogo. Mas Belle sabe que, entre as pessoas que a acolheram, a cor da pele não significa nada e por isso acaba recebendo Lavinia de braços abertos. Esse é apenas o início da saga de uma família formada por laços que vão muito além do sangue. Uma história de coragem, esperança, força e amor à vida. 

Kathleen Grisson - Arqueiro -  336 páginas 



Escolha: Decidi ler Escravas de Coragem primeiro porque sou apaixonada por livros do gênero "Historical Fiction", ou seja, qualquer livro cujo enredo se passa em algum momento histórico da humanidade. Fui fuçar o Goodreads e encontrei esse livro que me chamou bastante atenção pelo resumo.  Outro motivo que me atraiu para o livro é que também já vivi na Georgia - USA - e todos sabem da antiga relação do sul dos EUA com a escravidão. Bati o martelo (e ganhei do marido a versão em inglês para o kindle)!

Enredo:  O momento histórico no qual a história se desenrola é o período de escravidão nos Estados Unidos (1791-1810). O livro conta a história de uma família e seus escravos e se passa quase que totalmente em uma plantação de Tabaco no estado da Virgínia,  propriedade do Capitão James Pyke. 

A história é dividida em 55 capítulos + prólogo e epílogo. Cada um dos capítulos narra os acontecimentos pela visão de Lavínia ou Belle (as duas protagonistas da história). Essa dupla narração de acontecimentos (e, consequentemente, de pontos de vista) é importante pois as personagens possuem diferentes entendimentos sobre alguns acontecimentos (visto que Belle é uma jovem adulta no começo do livro) enquanto Lavínia é ainda uma criança.  Além disso, no decorrer da história, Belle e Lavínia passam algum tempo em lugares diferentes e a dupla narrativa permite que possamos acompanhar os acontecimentos desenrolando em ambos os locais. 

O enredo começa com a narrativa de Lavínia, uma menina irlandesa e branca que perdeu os pais em uma viagem de navio e foi levada pelo Capitão Pyke até a casa da cozinha de sua fazenda. Lá ela é acolhida pela escrava negra Belle (que na verdade é filha ilegítima do capitão) e toda a família de escravos da cozinha (e que atendem diretamente na casa grande). Existe também um outro ramo de escravos na fazenda (os que trabalham na plantação). O livro mostra claramente que as famílias escravas são formadas não por laços de sangue mas sim de convivência e amor (o que não é difícil de imaginar visto que os escravos eram comercializados individualmente e, muitas vezes, separados de suas famílias de sangue). 

No seio dessa "família escrava" Lavínia é acolhida. Os primeiros capítulos do livro mostram o impacto da chegada da Lavínia (uma menina de aparência frágil e bastante doente) no meio de uma família que luta pra se manter unida e ajuda uns aos outros acima de tudo. Também situa o leitor na dura realidade da escravidão quando desenvolve o drama entre Belle e o capitão (filha e pai) mas que é vista pela esposa do capitão e seus filhos (principalmente o mais velho) como sua amante.

Lavínia se recupera e a história se direciona para a relação de Marshall (o filho mais velho) e Dona Martha (a esposa) com os escravos e seu ressentimento para com Belle. E, a partir desse ponto, começa uma série de acontecimentos que nos mostra o horror da escravidão ao mesmo tempo que a lealdade dos escravos para com seus mestres (ex. quando um tutor é chamado para ensinar Marshall e os escravos percebem que algo não está correto, eles fazem de tudo para trazer a verdade aos olhos dos patrões - até que tomam atitudes drásticas para acabar com o sofrimento do garoto).

A história vai se desenvolvendo e mostrando não só os laços de lealdade mas também nos mostra a fragilidade do ser humano pois em alguns momentos os acontecimentos do passado (e os ressentimentos ou alegrias) mudam ou influenciam as escolhas de vida das personagens da mesma forma como acontece na vida de qualquer ser humano.

Depois de um tempo e alguns acontecimentos Lavínia, por ser branca, passa a morar com a irmã de Dona Martha em outra cidade (assim como seu filho Marshall). Lá ela não é tratada como escrava e sim como filha e, por consequência, acaba voltando para Tall Oaks como senhoria e não mais na casa da cozinha como antes de partir. Isso gera para ela uma necessidade de ajuste. O livro narra o conflito dela tentando viver a nova vida que lhe é imposta ao mesmo tempo que deseja abraçar a família que a acolheu. Na verdade, pra ir mais fundo, o livro mostra todos lidando com essa inversão de papéis, que, por sua vez, gera uma nova sequência de acontecimentos na fazenda. Um deles, por exemplo, é a ruína do casamento de Lavínia.

Junto com tudo isso há o declínio de poder da fazenda e a necessidade de venda de escravos para que o patrão tenha dinheiro e a luta da família escrava para permanecer unida acima de tudo. Unida não só entre eles (escravos) mas também Lavínia que, embora tenha se tornado dona dos escravos, ainda mantém seu coração junto com aqueles que foram sua única família por tantos anos.

Opinião: O livro narra aproximadamente 20 anos da saga de uma família e seus escravos e é bem fiel a tudo que conhecemos sobre o assunto. Os personagens são muito bem construídos e contextualizados e, em nenhum momento, suas escolhas podem ser questionadas. Até mesmo Lavínia que, em um momento do livro, toma uma decisão que parece absurda na visão do leitor, está sendo guiada pela sua vivência e sua carga emocional de vida. E a autora acertou em deixar isso extremamente claro. 
Além disso a história encanta pelo modo como é contada. A diferença na visão experiente de Belle e dos escravos e a visão ingênua e infantil de Lavínia (isso no começo da história). 

Pra quem eu recomendo o livro? Para os amantes de romances históricos é uma ótima pedida. Se você curtiu "The Help", por exemplo, vai adorar. Se gostou de 12 anos de escravidão também. Mesmo pesado (o tema da escravidão é pesado assim como guerra e holocausto) é um livro que nos ensina muito e que surpreende. 

Pra quem eu não recomendo? Fuja se você não gosta de tristeza e de acontecimentos marcantes. Não há rodeios para se tratar o dia a dia da escravidão (mortes, espancamentos, mutilações, estupros). O livro pode te fazer desistir ainda que esses assuntos sejam apenas pano de fundo pra se entender as ações das personagens.

Oba, gostei! Quero ler também! O que mais eu devo saber?
Informações do livro e até um trecho pra ler online você encontra no site da editora Arqueiro (aqui).

Compre pelo link abaixo e ajude o blog a ter sempre nas resenhas!

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Cadê você Bernardette - Maria Sempre [Resenha]



Bee concluiu seus estudos na Galer Street, uma escola liberal de Seattle, com as melhores notas, e tudo que ela quer como presente de formatura é uma viagem à Antártida na companhia dos pais. Elgin é um pai ausente, mas genial: programador da Microsoft, tornou-se um rock star no mundo nerd por ter dado a quarta palestra mais vista no TED, e está prestes a lançar o Samantha 2, o projeto de sua vida. O momento não poderia ser pior para se isolar no extremo sul do planeta. 
A mãe, Bernardette, já não aguenta a vida em Seattle e está a beira de um ataque de nervos. Poucos dias antes da vigem, ela desaparece, com medo do convívio social e de sentir enjoo durante a travessia da passagem de Drake. Agora Bee fará tudo para encontrar a mãe. Mas antes ela terá de descobrir quem é essa mulher que ela acreditava conhecer tão bem.


Autor: Maria Semple
372 páginas
Editora Companhia das Letras


⭐⭐⭐⭐   



Esse livro me atraiu mesmo pela capa. Achei a capa bonita e eu não resisti. Dei uma olhada na sinopse e fiquei atraída por alguns pequenos detalhes:
- Adoro livros que falam sobre lugares inusitados. Aqui uma família está prestes a ir para Antártida. Já me lembrei na hora do livro "Incrível viagem de Shackleton" que eu li faz algum tempo e amei.
- Além disso, apesar de parecer um chick lit, a contra capa mostra um texto de um desaparecimento, ou seja, temos um mistério por aí...

Aí eu imediatamente procurei algumas informações adicionais e vi que é um livro que ganhou alguns prêmios:
- Ficou um ano entre a lista dos mais vendidos no "New York Times Bestseller List"
- Foi finalista no ano de 2013 do prêmio "Women's Prize for Fiction", mais informações sobre o prêmio podem ser vistas aqui.
- Ganhou um Alex Award (prêmio anualmente dado a livros escritos para público adulto mas que agrada o público entre 12-18 anos) em 2013.

Além disso, o livro está em fase de adaptação para o cinema para lançamento em 2019/2020.


O livro conta a história de uma família que vive em Seattle. Temos aqui Bernardette (a mãe), Elgin (o pai) e Bee (uma adolescente 15 anos). Só que essa história contada através de cartas, e-mails e documentos trocados entre os diversos personagens durante os acontecimentos que culminam com o desaparecimento de Bernardette. Posso dizer aqui que essa forma de se contar a história foi um diferencial bem interessante. Sei que muita gente não gosta mas acho que deu ao livro um ar diferente, dando uma certa curiosidade em ligar algumas peças entre os documentos apresentados.

Bee (na verdade o seu nome é Balakrishna) é aquela jovem que dedicou a vida toda aos estudos e agora, como "recompensa", deseja ir com sua família à Antártida. Bernardette, por sua vez, é uma mãe zelosa, mas que não consegue interagir com o mundo que a rodeia de uma forma tranquila. Ela sofre de agorafobia e é tida como "estranha" e "diferentona" por aqueles com quem ela convive. Elgin, o pai, é aquele workaholic típico que se afunda na carreira para fugir do mundo que o cerca. Sendo assim, ele é quase um ídolo em Seattle, um gênio.

Ao apresentar brevemente as personagens, já possível notar que há uma complexidade nessa relação familiar que torna tudo mais interessante. Antes deles o livro, algumas resenhas mostravam Bernardette como chata e isso é até um pouco compreensível. Não é todo leitor que poderá se identificar com as experiências vividas pela personagem (isso é um fato) e assim não conseguirá entender algumas de suas atitudes durante o desenrolar da história. Bernardette sofre de agorafobia e transfere suas responsabilidades para uma assistente pessoal alocada na India.

Tudo vai correndo com o planejamento da grande viagem, até que... Bernardette some. Bee então se foca em buscar pela sua mãe desaparecida. E aí vemos a jornada de uma jovem em busca daquilo que ela vê de melhor em sua mãe, da busca por entender um pouco melhor o mundo da própria mãe. Esse desaparecimento é um mistério que corre quase até o final do livro e é interessante a forma como se apresenta.

Não vou dar spoilers mas o livro aborda diversos assuntos importantes e que as vezes são ainda encarados como tabu na sociedade: depressão, relações familiares, amor incondicional entre mãe e filhos, preconceito, doenças psicológicas...



Opinião:
Gostei da leitura. Como eu gosto um pouco desse gênero eu normalmente já sei um pouco o que esperar e acho as histórias de leitura fácil e divertida. Achei que a história se desenvolveu de forma interessante e que o enredo não se baseou no clichê amoroso (eu confesso que quando o plot foca quase que exclusivamente em um relacionamento amoroso eu largo o livro). Sendo assim, esse livro surpreendeu pela diferenciação do enredo abordando questões um tanto profundas com leveza e fluidez de um chick-lit. O único ponto negativo, para mim, foi que o desaparecimento de Bernardette demorou muito  acontecer e a solução do mistério foi um pouco rápida.

Um ponto a considerar:
- O livro narra a história de uma forma diferente, através de documentos, e-mails, bilhetes e anotações dos personagens, ou seja, não é uma narrativa clássica e isso pode incomodar alguns leitores que podem se irritar com a informação picotada e, por vezes, enrolada ou superficial demais.


Pra quem eu recomendo o livro? Para quem curte um chick-lit com um pequeno toque de mistério. É uma leitura daquelas de ler na beira da piscina, na praia... (mesmo com um enredo focado na Antártida). Não espere uma leitura muito profunda, mas certamente diferente.


Então tá. Beijinhos e boas leituras!